Urbanismo afetivo: o que faz alguém amar o lugar onde mora?

31 de jul, 2025

Urbanismo afetivo: o que faz alguém amar o lugar onde mora?

Urbanismo afetivo: o que faz alguém amar o lugar onde mora?

O lugar onde vivemos influencia diretamente como nos sentimos, nos comportamos e nos conectamos com o mundo. Mais do que infraestrutura e funcionalidade, a cidade também nos toca emocionalmente. É nesse ponto que o urbanismo afetivo ganha relevância: um olhar mais humano e sensível para o planejamento urbano, que considera o vínculo entre pessoas e os espaços que elas habitam. 

Atividades como caminhar por uma rua sombreada, sentar-se em um banco embaixo de uma árvore ou cruzar uma calçada acessível, têm um impacto significativo no cotidiano. São detalhes que fortalecem o pertencimento, estimulam o convívio e influenciam diretamente na saúde física e emocional. Dados da Fiocruz e de outras instituições brasileiras mostram que a presença de vegetação está relacionada à redução de doenças respiratórias, ansiedade e até da pressão arterial. 

Esses benefícios se estendem à infância: uma pesquisa publicada em 2023 no The Lancet Planetary Health revelou que crianças com acesso frequente à natureza urbana apresentam maior capacidade cognitiva, menos problemas comportamentais e melhor saúde mental. Mesmo em pequenos espaços, a presença de natureza pode transformar a relação entre a cidade e seus habitantes.  

Além da saúde, o urbanismo afetivo contribui para criar cidades que acolhem. Ambientes com fachadas vibrantes, iluminação eficiente, arte urbana, praças ativas e mobiliário convidativo são elementos que estimulam a permanência e criam memórias afetivas. São nesses detalhes que nascem vínculos duradouros entre as pessoas e os lugares. 

Também é impossível ignorar o papel que as áreas verdes bem planejadas exercem diante das mudanças climáticas. Neste contexto, o desafio das urbanizadoras modernas é conciliar crescimento urbano com soluções sustentáveis e sensíveis. Em áreas antes subutilizadas ou degradadas, o planejamento responsável pode transformar terrenos em bairros planejados que equilibram habitação, infraestrutura, áreas verdes e convivência. A criação de espaços públicos arborizados, a escolha consciente de espécies nativas e o cuidado com a drenagem urbana são exemplos de como é possível desenvolver sem renunciar ao respeito à natureza. 

Curitiba segue sendo referência nessa abordagem. Seu planejamento urbano, construído ao longo de décadas, prioriza a integração entre áreas verdes, mobilidade e qualidade de vida. Não por acaso, em maio de 2025, o Índice de Progresso Social (IPS) do Imazon apontou Curitiba como a capital com a melhor qualidade de vida no Brasil, com destaque para os 68 m² de área verde per capita. 

Então, o que faz alguém amar o lugar onde mora? A verdade é que projetar bairros e espaços pensando na vida que acontece neles é o que transforma concreto em pertencimento. Tudo isso mostra que urbanizar com afeto não é uma tendência passageira, é um caminho para cidades mais humanas, seguras e saudáveis. E que, no fim das contas, o que faz alguém amar o lugar onde mora são os detalhes que tocam, acolhem e fazem sentir.